Escola Preparatória de Cadetes do Ar 2019

TEXTO I

Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A cena ocorre na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo grego, que recebe o convidado Agnostos, um capitão ateniense. O jantar é servido por Esopo e Melita, escravos de Xantós.


(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa.

Está coberto com um pano. Xantós e Agnostos se dirigem

para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para

sentarem-se.)


5 XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a

comer com as mãos, e faz um sinal para que Melita sirva

Agnostos. Este também começa a comer vorazmente,

dando grunhidos de satisfação.) Fizeste bem em trazer

língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas do

10 mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve,

Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de qualquer modo é bom

possuir riquezas. Não gostas de saborear esta língua e

este vinho?


AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum.


15 XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e

volta imediatamente com outro prato coberto. Serve,

Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro!

É bom língua de fumeiro, hein, amigo?


AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../


20 XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato. (Serve) Que trazes

aí?


ESOPO – Língua.


XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o

que há de melhor para meu hóspede? Por que só trazes

25 língua? Queres expor-me ao ridículo?


ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o

que nos une todos, quando falamos. Sem a língua nada

poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o

órgão da verdade e da razão. Graças à língua dizemos o

30 nosso amor. Com a língua se ensina, se persuade, se

instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se

elogia, se mostra, se afirma. É com a língua que dizemos

sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a

língua que desdobra os versos de Homero. A língua cria o

35 mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a

Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de

Pidias, dos deuses do Olimpo à glória sobre Tróia, da ode

do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi

feita com a língua, a língua de belos gregos claros falando

40 para a eternidade.


XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) –

Bravo, Esopo. Realmente, tu nos trouxeste o que há de

melhor. (Toma outro saco da cintura e atira-o ao escravo)

Vai agora ao mercado, e traze-nos o que houver de pior,

45 pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à frente

com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e

bom possuir um escravo assim?


AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../


(Entra Esopo com prato coberto)


50 XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na

terra, vejamos o que há de pior na opinião deste horrendo

escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que

língua era o que havia de melhor? Queres ser

espancado?


55 ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo.

É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os

processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que

usam os maus poetas que nos fatigam na praça, é a

60 língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a

língua que mente, que esconde, que tergiversa, que

blasfema, que insulta, que se acovarda, que se mendiga,

que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que

vende, que seduz, é com a língua que dizemos morre e

canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a

65 língua Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia

vai tumultuar os pobres cérebros humanos para toda a

eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de

todas as coisas!



(FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ. Disponível para fins didáticos em www.teatroparatodosufsj.com.br/ download/guilherme-figueiredo-araposa-e-as-uvas-2/ Acesso em 13/03/2019.)

Leia o trecho abaixo e responda à questão a seguir.


“Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de

melhor para meu hóspede? Por que só trazes língua?

Queres expor-me ao ridículo?” (l. 23 a 25)

Em relação à análise morfossintática desse fragmento, assinale a alternativa correta.

a

Em “Não te disse que trouxesse (...)?”, é possível perceber o coloquialismo no uso concomitante de 2ª e 3ª pessoas gramaticais.

b

Em “Por que só trazes língua?”, o pronome interrogativo, deslocando-se para o final da oração, seria grafado junto e com acento.

c

Em “Queres expor-me ao ridículo?”, o pronome oblíquo poderá, de acordo com a norma padrão da Língua, vir antes do verbo ‘querer’.

d

Em “(...) o que há de melhor para meu hóspede?”, o pronome demonstrativo exerce a função sintática de sujeito da oração.

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A
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