Leia o trecho a seguir retirado de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
“Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos (...). O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.” (ROSA, J.G., 2001, p.23-24).
Sabe-se que Guimarães Rosa trabalha de forma muito especial com a linguagem que compõe seus textos. O processo utilizado por ele pode ser descrito como:
Experimentação com processos de criação de palavras e formas sintáticas que misturavam a cultura popular e a erudita, num processo de invenção bastante produtivo.
Registro fiel da língua do povo, na tentativa de guardar uma marca de brasilidade que foi se perdendo com o tempo. O escritor age como compilador.
Utilização de norma culta pedante e difícil, pois o autor era erudito e sabia de termos que, embora pareçam estranhos, pertencem ao mais refinado de nossa língua.
Codificação da linguagem para despistar a censura, já que seus livros foram escritos em pleno regime militar e denunciavam a violência dos detentores do poder.
Registro de um português simplificado, cotidiano, coloquial, bem adequado a seu conteúdo, que buscava traduzir o homem simples do sertão.