Leia o trecho a seguir, de uma entrevista, para responder à questão.
Caso menino Miguel: ‘A nossa supremacia branca é assim’, diz historiadora
Na semana em que protestos motivados pela morte de um homem negro, George Floyd, por um policial branco nos Estados Unidos se espalharam também pelas redes sociais brasileiras, o filho negro de uma empregada doméstica, Miguel Otávio, morreu ao cair de um prédio de luxo no Recife, enquanto estava aos cuidados da patroa, branca.
O garoto de 5 anos tinha acompanhado a mãe, Mirtes Renata de Souza, ao trabalho no apartamento dos patrões, já que as creches em Recife estão fechadas por causa da pandemia de covid-19. [...] De acordo com a investigação, o menino desceu no 9º andar, escalou uma grade na área dos aparelhos de ar-condicionado e caiu.
Isso não significa, no entanto, que o racismo no Brasil ganhará o centro do debate, segundo Luciana. “Ainda precisamos ser pautados pelos Estados Unidos, porque ainda queremos acreditar no mito de que vivemos numa democracia racial. É mais fácil olhar para lá e dizer: ‘graças a Deus aqui não é assim’. Mas aqui é assim, sim” [...].
O Brasil acabou com a escravidão e entrou no pós-abolição com o mito de “não temos conflito racial como nos Estados Unidos”. E outros mitos como “o negro aqui não trabalha, é preguiçoso”. Aí foram criminalizadas as atividades negras pela lei da vadiagem, do Código Penal de 1942. Não tinha nada lá falando sobre negro, mas a capoeira era crime, o candomblé era crime. Ficar na rua, algo comum para as pessoas negras libertas que não tinham emprego ou tinham empregos informais, era crime. Então, depois da abolição, o Brasil não criou leis claramente segregacionistas, mas encontrou formas igualmente perversas de lidar com a população negra, que transformaram o racismo em algo não dito.
A educação para sobreviver numa sociedade racista a partir do não dito deixou mais difícil para pessoas negras se organi- zarem em torno de um inimigo visível. Raramente uma pessoa negra no Brasil tentou entrar num restaurante e ouviu “preto não entra aqui”. Nós sabemos, e vivenciamos isso, que aqui você ouve “as mesas estão todas ocupadas”. Você entra em uma loja e não é expulso, mas a vendedora o ignora. Quem não ignora é o segurança [...].
Somos treinados, inclusive as pessoas negras, para que, quando virmos corpos negros na televisão sendo arrastados para a delegacia ou as chacinas nas comunidades, pensemos: “ali era marginal, e marginal tem que morrer”. O Brasil foi resolvendo seu problema racial assim: com muita força policial, muita repressão e sem falar abertamente do conflito. E construímos uma identidade nacional como uma democracia racial pacífica, acreditando que o problema racial é um problema do outro. O nosso olhar, sobretudo, o da grande imprensa, sobre o conflito nos EUA, continua sendo esse: “Olha que absurdo o policial branco que matou o negro”. Mas dizendo subliminarmente, pelo silêncio, que no Brasil não tem isso.
Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/06/05/caso- -menino-miguel-a-nossa-supremacia-branca-e-assim-diz-historiadora.ghtml. Acesso em: 15 ago. de 2020.
Os discursos são compostos por enunciados que constroem sentidos no contexto social, político e histórico em que foram produzidos. E são organizados com frases, períodos simples e compostos, de acordo com as escolhas de cada autor. Sobre esse assunto e, a partir do que disse Luciana Brito, avalie as alternativas a seguir.
I - O trecho “o Brasil não criou leis claramente segregacionistas, mas encontrou formas igualmente perversas de lidar com a população negra” revela porque o racismo no Brasil é sutil e a afirmação é formada por duas orações coordenadas; a segunda é conclusiva.
II - No excerto “o menino desceu no 9º andar, escalou uma grade na área dos aparelhos de ar-condicionado e caiu”. O acidente trágico da criança foi resumido por duas orações coordenadas assindéticas e uma sindética aditiva.
III - No trecho “Miguel Otávio morreu ao cair de um prédio de luxo no Recife, enquanto estava aos cuidados da patroa, branca”, o trecho destacado é uma oração subordinada adverbial temporal que define a responsabilidade da patroa.
IV - Em “não tinha nada lá falando sobre negro, mas a capoeira era crime, o candomblé era crime”, o primeiro elemento coesivo destacado retoma “Código Penal” como espaço de ausência acerca de racismo. Já o segundo termo destacado inicia uma oração coordenada adversativa que reforça as contradições da lei em relação ao racismo no país.
É correto o que se afirma em:
III e IV, apenas.
I e IV, apenas.
I e III, apenas.
II, III e IV, apenas.
I, II, III e IV.