Leia o trecho a seguir de A máquina do mundo, poema de Carlos Drummond de Andrade, correspondente à quarta, quinta e sexta estrofes, e assinale a alternativa correta.
[...] a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar [...]
As expressões “pupilas gastas”, “mente exausta de mentar” e “quem” se referem à máquina do mundo, descrita pelo eu que fala (possivelmente o poeta), referido no poema pela expressão “impuro”.
O poema espelha aspectos da forma modernista inerente à obra do poeta Drummond, com estrofes e versos irregulares, sem rimas, livres e brancos.
A expressão “se entreabriu” dá a medida do quanto a máquina do mundo se revela ao eu que fala e que a viu, isto é, de modo tímido, sem se apresentar completamente, o que pode ser constatado ao longo do poema.
“Se entreabriu”, “abriu-se” e “sem emitir” são expressões que contêm verbos de ação, que estruturam o gênero do poema que, apesar de ser uma “tentativa de explicação do estar no mundo” feita pelo poeta, é mais narrativo que lírico.
A escolha do título do poema, “A máquina do mundo”, e das estrofes estruturadas com três versos é procedimento de intertextualidade que remete o poema à tradição lírica ocidental, relacionando-o à prosa de Camões e Dante Alighieri.