Leia o trecho a seguir da obra A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água, de Jorge Amado.
Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro D’Água. Dúvidas por explicar, detalhes absurdos, contradições no depoimento das testemunhas, lacunas diversas. Não há clareza sobre hora, local e frase derradeira. A família, apoiada por vizinhos e conhecidos, mantém-se intransigente na versão da tranquila morte matinal, sem testemunhas, sem aparato, sem frase, acontecida quase vinte horas antes daquela outra propalada e comentada morte na agonia da noite, quando a lua se desfez sobre o mar e aconteceram mistérios na orla do cais da Bahia. Presenciada, no entanto, por testemunhas idôneas, largamente falada nas ladeiras e becos escusos, a frase final repetida de boca em boca, representou, na opinião daquela gente, mais que uma simples despedida do mundo, um testemunho profético, mensagem de profundo conteúdo (como escreveria um jovem autor de nosso tempo).
(AMADO, J. A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água. Rio de Janeiro: Record, 2000. p.13-14.)
O fragmento apresenta a discussão que se estabeleceu sobre as reais circunstâncias da morte de Quincas Berro D’Água.
Considerando as características da Segunda Fase do Modernismo, bem como a possibilidade de “duas mortes” do personagem, assinale a alternativa que apresenta motivações que justifiquem relacionar a obra com o momento literário em questão.
A confusão sobre a morte de Quincas Berro D’Água estabelece-se pelo fato de a primeira morte, aquela atestada pela família, configurar-se como uma morte simbólica, por conta da mudança de vida do respeitado funcionário público Joaquim para o boêmio Quincas; ao passo que a segunda morte se caracteriza como uma morte física e real, passamento não confirmado pela família, que há tempos já considerava o protagonista como morto, por sua conduta mundana. A postura dos entes de Quincas assevera o momento de valorização da moral e dos costumes daquela sociedade.
O fragmento do texto de Jorge Amado revela questionamentos sobre a morte de Quincas Berro D’Água, pois o personagem faleceu vítima da violência crescente na capital baiana, circunstância a ser escondida pela família e que aponta críticas a um quadro econômico e social decadentes.
O trecho apresenta uma confusão sobre a morte de Quincas Berro D’Água, pois, como se vê na última parte do fragmento, o personagem ainda havia proferido uma frase – espécie de despedida, vinte horas depois do que fora divulgado pela família, antes de findar sua própria vida no mar, como sempre desejou. Este fato fora ocultado pelos parentes de Quincas Berro D’Água por estes se preocuparem com a possível danação religiosa do morto, já que ele atentara contra a própria vida, em um flagrante apego e cuidado com as convenções morais, o que era típico na época.
O trecho apresenta uma confusão sobre a real situação da morte de Quincas Berro D’Água, uma vez que a família assume uma versão, limpa e decente, e os amigos atestam outra, perpassada pela boemia e finalizada no mar. Isto se dá pela tentativa de empreender uma crítica à realidade da sociedade da época, pautada em um moralismo coercitivo que mascara a verdade, tratando com humor ainda os costumes por meio da revelação de traços do ambiente baiano, plural em seus personagens e aspectos socioculturais.
O trecho refere-se à dúvida sobre a morte de Quincas Berro D’Água, uma confusão justificada pelas noções de real e sobrenatural, apoiadas pela ideia de um morto que, mesmo atestado como tal, é capaz de sair com os amigos para uma última despedida da vida boêmia.