Leia o trecho a seguir.
Aqueles que são contratados experienciam uma distinção entre o tempo do empregador e o seu “próprio” tempo. E o empregador deve usar o tempo de sua mão-de-obra e cuidar para que não seja desperdiçado: o que predomina não é a tarefa, mas o valor do tempo quando reduzido a dinheiro. O tempo agora é moeda: ninguém passa o tempo, e sim o gasta” [...] “Havia muitos relógios em Londres na década de 1790: a ênfase estava mudando do “luxo” para a “conveniência”; até os colonos podiam ter relógios de madeira. Na verdade (como seria de esperar), ocorria uma difusão geral de relógios portáteis e não portáteis no exato momento em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho.
THOMPSON, Edward . P. Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial. In: Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 272 e 279.
Sobre as mudanças provocadas a partir da Revolução Industrial, assinale a alternativa CORRETA.
A Revolução Industrial inaugurou novas dinâmicas de trabalho, alterando inclusive a relação que os indivíduos tinham com o tempo. Essa modificação tem reflexos até os dias atuais, tendo em vista que uma das máximas da sociedade capitalista liberal é a ideia de que tempo é dinheiro e que hoje gastamos o tempo e não passamos por ele.
A difusão do relógio como um instrumento de controle tem suas raízes no período medieval, no qual os servos sofriam com um rigoroso controle sobre o tempo que passavam nos campos e cuidando dos animais, sendo o relógio restrito às classes abastadas, mas utilizado como instrumento de poder sobre os mais pobres.
Mesmo com o controle rígido feito nas fábricas, havia um limite de dez horas de trabalho diárias por volta do fim do século XVIII na Inglaterra. Assim, os operários podiam voltar aos seus lares e ainda aproveitaram algumas horas de lazer com suas famílias.
Apesar de o relógio ainda ser bastante importante para o controle de horário dos empregados, sendo um legado da Revolução Industrial, na sociedade contemporânea, com a adoção do trabalho em casa e flexibilização das leis trabalhistas, o relógio perdeu sua função de controle sobre os trabalhadores.
O controle do tempo com base no relógio ficou restrito aos operários fabris, não tendo grandes reflexos em outros setores econômicos, como a agricultura e os serviços bancários, logo, somente no final do século XIX é que empregadores de outras áreas passaram a contabilizar as horas trabalhadas e remunerar seus funcionários a partir disso.