Leia o texto para responder à questão
Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha numa burra velha, de chapéu de palha muito alvo, com a fita verde- -amarela na lapela do paletó. O mestre José Amaro estava sentado na tenda, sem trabalhar. E quando viu o compadre alegrou-se. Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. Desde aquele dia em que vira o compadre sair com a filha para o Recife, fazendo tudo com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o vagabundo que tanto lhe desagradava. Vitorino apeou-se para falar do ataque ao Pilar. Não era amigo de Quinca Napoleão, achava que aquele bicho vivia de roubar o povo, mas não aprovava o que o capitão fizera com a D. Inês.
– Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é para ser respeitada.
– E o capitão desrespeitou a velha, compadre?
– Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. Ela não deu. José Medeiros, que é homem, borrou-se todo quando lhe entrou um cangaceiro no estabelecimento. Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado. Este cachorro anda agora com o fogo da força da polícia fazendo o diabo com o povo.
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
A passagem do quarto parágrafo – Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre.
– é caracterizada por discurso
direto, por meio do qual o narrador expressa a indignação do Capitão Vitorino e do Mestre José Amaro ao ataque à cidade do Pilar.
indireto, por meio do qual a personagem Quinca Napoleão explica ao Capitão Vitorino o medo que reinou em Pilar durante o ataque.
direto, por meio do qual a personagem Mestre Amaro manifesta sua indignação diante dos fatos que lhe são narrados.
direto, no qual se insere trecho de discurso indireto em que Capitão Vitorino relata a seu interlocutor o que ouviu de outrem.
indireto, que prepara a introdução do direto, para esclarecer que nem Capitão Vitorino nem José Medeiros presenciaram os fatos em Pilar.
Neste trecho de “Fogo Morto”, de José Lins do Rego, há uma situação em que o personagem Capitão Vitorino expõe o que soube acerca do que aconteceu com D. Inês. Ele inicia um discurso em primeira pessoa (“Eu não estava lá”) e, em seguida, relata o que foi contado a ele (“Mas me disseram que...”). Trata-se, portanto, de um discurso direto para narrar aquilo que Vitorino diz, porém, em seu discurso, ele descreve o que outros lhe contaram. Isso caracteriza a inserção de um discurso indireto dentro de um discurso direto, pois o personagem faz referência a um relato recebido (“botou o rifle em cima dela…”), sem reproduzir exatamente as palavras originais de quem contou, mas marcando o distanciamento pelo “me disseram que...”.
Dessa forma, a fala é diretamente atribuída à personagem, mas ela própria inclui um comentário sobre algo que foi contado por terceiros. Isso confirma que o enunciado apresenta discurso direto (palavras do próprio Vitorino), com um trecho de discurso indireto embutido (o relato de terceiro, “me disseram que...” e “botou o rifle…”). Por isso, a alternativa correta é a letra D.
Discurso direto: reproduz-se exatamente o que uma personagem disse, geralmente marcado por travessões ou aspas, e o narrador retoma as palavras do falante sem alteração.
Discurso indireto: o narrador não reproduz as palavras exatas da personagem, mas faz um relato do que foi dito, alterando a forma verbal e pronomes para incorporar ao seu discurso.
Na passagem, temos o discurso direto do personagem – “Eu não estava lá” – mas ele introduz um relato de outrem com “Me disseram que…”, configurando assim a presença de um discurso indireto dentro do direto.