Leia o texto “O transumanismo e a obsolescência do homem”, de Jean-Pierre Dupuy, para responder à questão.
Em A condição humana, obra publicada em 1958, a filósofa Hannah Arendt apresentou uma reflexão sobre a condição humana inspirada no pensamento grego, uma reflexão ímpar. Ela, premonitoriamente, antecipava que essa nossa condição, que não construímos, mas que recebemos sem ter nada a ver com isso, seria profundamente colocada em questão pelo progresso das ciências e das técnicas. Ela profetizava:
“O mundo – artifício humano – separa a existência do homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos os outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem se esforçando por tornar “artificial” a própria vida, por cortar o último laço que faz do próprio homem um filho da natureza. [...] Esse homem futuro, que segundo os cientistas será produzido em menos de um século, parece motivado por uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi dada – um dom gratuito vindo do nada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por assim dizer, por algo produzido por ele mesmo.”
Passaram-se apenas cinquenta anos desde essa profecia, e a revolta contra o dado da condição humana já se encontra em vias de realização. O movimento intelectual e cultural que se denomina transumanismo tem a clara missão de melhorar fundamentalmente a condição humana pelo uso da razão, sobretudo desenvolvendo e tornando acessíveis a todos as técnicas que permitirão eliminar o envelhecimento e aumentar consideravelmente as capacidades intelectuais, físicas e psicológicas do homem. O objetivo anunciado é o de ultrapassar os limites que constituem hoje a condição humana, entre eles o sofrimento, o envelhecimento e a morte, a inteligência limitada dos seres humanos e de suas máquinas, o fato de que não escolhemos nossa psicologia e nossos afetos, assim como nosso confinamento nos limites do planeta Terra. Em suma, trata-se de redesenhar a condição humana, ou seja, concebê-la ou fabricá-la, como se faz com uma máquina ou com um artefato.
Transumanismo significa humano em transição, em direção a um estado chamado pós-humano, no qual a espécie humana terá dado lugar a uma outra espécie que ela mesma fará nascer. Os pós-humanos serão, sem dúvida, mais parecidos com máquinas do que com humanos. Não somente estarão desprovidos de todos os males que fazem nossa vida na Terra se parecer com viver num vale de lágrimas, como também serão capazes de se refabricar à vontade, a cada momento podendo escolher, em função de seus desejos, seu corpo, sua psicologia e suas emoções.
(Adauto Novaes (org.). A condição humana: as aventuras do homem em tempos de mutações, 2009. Adaptado.)
De acordo com o autor, transumanismo seria a tentativa de
superar os limites da condição humana.
restringir o avanço técnico das máquinas.
aproximar as máquinas do mundo natural.
apagar completamente a condição humana.
projetar a condição humana nas máquinas.