EMESCAM 2010/2

Leia o texto: Fuga

 

    Mal colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
    - Pára com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
    Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não
estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
    - Pois então pára de empurrar a cadeira.
    - Eu vou embora – foi a resposta.
    Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas
coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de madeira com
apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? – a
mãe mais tarde irá dizer ), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande
aventura, um botão amarrado num barbante.
    A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao
redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
    - Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra
do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
    - Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.
    Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do
muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o
pedaço de biscoito e – saíra de casa prevenido – uma moeda (...). Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à avenida, como disposto a atirar-se diante do lotação que surgia a
distância.
    - Meu filho, cuidado!
    O lotação deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a
um animalzinho:
    - Que susto você me passou, meu filho! – e apertava-o contra o peito, fora de si.
    - Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
    Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
    - Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
    - Me larga. Eu quero ir embora.
    Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta
da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
    - Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
    - Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
    E o barulho recomeçou. 

[Fernando Sabino]

 

Assinale a explicação que melhor condiz com o texto:

a

Em ‘não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira’ a fala do menino é retratada de maneira direta, isto é, o autor reproduz exatamente as palavras que o menino diz.

b

Quando o autor diz que ‘ele juntava ação às palavras’, ele quer salientar que o menino juntou do chão as coisas desnecessárias.

c

O detalhe apontado pelo autor: ‘falou, sem se voltar’ revela que o menino conseguiu o que queria: irritar o pai.

d

Em ‘A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante...’ sugere que o pai, na verdade, não queria silêncio, porque já se acostumara com o barulho que o filho sempre fazia, e reclamava por reclamar.

e

Se compararmos o início do texto com o final, a conclusão a que podemos chegar é que recomeça a mesma cena do início, mas agora provavelmente o pai não vai mais reclamar para que o menino não fuja.

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Resposta
D
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