UNIFAN Medicina 2016/2

Leia o texto de Cecília Meireles, para a questão

 

ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS

 

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!

 

Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

 

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...

 

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam... 

 

Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora...
– e estais no bico das penas,
– e estais na tinta que as molha,
– e estais nas mãos dos juízes,
– e sois o ferro que arrocha,
– e sois barco para o exílio,
– e sois Moçambique e Angola!

 

Ai, palavras, ai, palavras,
íeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra...

 

Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?

 

– Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
– o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
– a umidade dos presídios,
– a solidão pavorosa;
– duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
– e a sentença que caminha,
– e a esperança que não volta,
– e o coração que vacila,
– e o castigo que galopa... 

 

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
– sois madeira que se corta,
– sois vinte degraus de escada,
– sois um pedaço de corda...
– sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...

 

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
– sois um homem que se enforca! 

MEIRELES, Cecília. Romance LIII ou Das palavras aéreas. In: Romanceiro da Inconfidência. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 142-144.

    O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, é uma obra de arte literária baseada em um fato histórico brasileiro – a Inconfidência Mineira. As relações entre Literatura e História são discutidas desde a Grécia Antiga e, ora elas se aproximam, ora se distanciam, mas o fato é que mantêm um elo indissociável: Literatura é recriação da realidade, é representação amparada por verossimilhança e, de acordo com Freitas (1986. p. 91), essa relação “É a resposta metafísica da arte à História, que possibilita ao homem dominar o universo, submetendo-o a uma consciência privilegiada e sobreviver à morte, atingindo uma certa forma de permanência que ultrapassa o tempo e o espaço históricos. A inscrição do texto literário numa situação histórica pode constituir num primeiro momento, um meio de oferecê-lo a uma abordagem sócio-histórica; a presença do acontecimento histórico na ficção literária torna possível uma tentativa de certo tipo de análise histórica – embora a obra não seja essa análise. Nessa perspectiva o texto literário pode ter um valor documental, importante para a História Social ou das Mentalidades [...].”

FREITAS, Maria teresa de. Literatura e história: o romance revolucionário de André Malraux. São Paulo: Atual, 1986. p. 91.

 

Acerca de Romanceiro da Inconfidência, do texto de Maria Teresa de Freitas e das relações estabelecidas entre Literatura e História, examine as afirmações:

 

1) Romanceiro da Inconfidência é uma obra literária que pode, seguramente, ser utilizada como fonte histórica confiável, pois, como assegura Freiras, “tem valor documental”.

2) Os textos literários que se utilizam de eventos históricos, propiciam, de alguma forma, uma visão crítica do fato.

3) Tanto o texto histórico quanto o literário, a exemplo de Das palavras aéreas, estão submetidos a subjetividades, em razão de duas diferentes visões conflitantes – dominar e ser dominado.

4) A Inconfidência Mineira, ao ser retratada pela literatura, perde seu caráter histórico.

5) Ao se apropriar da História, como prevê Freitas, a Literatura assume caráter metafísico e transcendental, assegurando-lhe uma relação sócio-histórica inquestionável.

 

Estão incorretas as afirmações identificadas por números na alternativa

a

1 e 2.

b

2 e 3.

c

3 e 4.

d

1 e 4.

e

4 e 5.

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Resposta
D
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