Leia o texto “Apologia grega à preguiça”, de Francis Wolff, para responder à questão.
Quando digo que os antigos gregos não conheciam a preguiça, isso não significa que fossem mais trabalhadores do que nós. Pelo contrário, eu diria. Isso significa que, para eles, o gosto pelo trabalho não era uma virtude: portanto, o fato de não gostar de trabalhar nem querer trabalhar não era um vício. As virtudes e os vícios não são universais. Por exemplo, o voyeurismo é um vício – a menos que você esteja em uma sociedade de exibicionistas, onde os voyeurs são bem-vindos. Ocorre o mesmo com a preguiça. Nós a consideramos um vício porque acreditamos que o trabalho (o gosto pelo trabalho) seja uma virtude. Mas, em uma sociedade que visse o trabalho como uma calamidade, ou o gosto pelo trabalho como perversão, não pensaríamos a preguiça como um vício. Acharíamos que ela é uma virtude ou, pelo menos, uma disposição sadia do caráter. Na verdade, até ignoraríamos a ideia de preguiça. O que restaria dessa repugnância ao trabalho, que denominamos preguiça, se não mais a condenássemos? Restariam apenas as emoções positivas: o gosto pelo repouso, por exemplo. E, de fato, por que preferir o movimento ao repouso? Por que escolher a excitação, em geral, vã? Aliás, seria preciso acreditar que somos indispensáveis para achar que o mundo necessita de nossa atividade. Amanhã, estaremos mortos e o mundo girará igualmente bem (ou igualmente mal) sem a nossa agitação. E, por fim, se não fizermos nada além de ir levando a vida, será que não estaremos mais disponíveis para as coisas realmente importantes: o amor, a amizade, a cultura de si, o divertimento, o desenvolvimento de nossas faculdades físicas e mentais? Finalmente: por que preferir a submissão ao trabalho diante da possibilidade de nada fazer, ou melhor, diante da liberdade de fazer o que bem nos aprouver?
(Adauto Novaes (org.). Mutações: elogio à preguiça, 2012. Adaptado.)
De acordo com o autor,
a carga de trabalho dos antigos gregos era maior que a dos homens atuais.
a sociedade atual subestima o valor do trabalho.
a avaliação do que seja virtude ou vício varia de sociedade para sociedade.
a condenação da preguiça é algo que aproxima os homens atuais dos antigos gregos.
a propensão ao ócio seria uma constante na história da humanidade.