Leia o texto a seguir para responder à questão.
O educador educacionista
O que é educacionismo, de Cristovam Buarque, 159 pp., Editora Brasiliense, São Paulo, 2008, R$ 16.
§1 Os "ismos" têm a sua utilidade. Identificam tendências, modos de pensar, doutrinas políticas e religiosas, teorias que desembocam em ações. O educacionismo é um deles.
§2 O senador Cristovam Buarque apresenta o educacionismo com seu habitual estilo – utópico, mas sensato; contundente, mas não apocalíptico (ainda que o colapso esteja batendo às portas). E o contrapõe a outros "ismos": o economicismo, o neoliberalismo, o materialismo...
§3 Didaticamente, como convém à tradicional coleção "Primeiros Passos", da Editora Brasiliense, o autor vai mostrando que o educacionismo, segundo sua concepção, é uma doutrina que vê a educação como possibilidade de conexão com o mundo, para além dos laços meramente econômicos; como forma de entender o mundo, para além da lógica do domínio e da exploração; como forma de promover o ser humano, para além da mentalidade baseada na competição e no sucesso egoísta.
Um convite à adesão
§4 Claro, sempre haverá quem ponha em xeque essas grandes intenções, por não acreditar nos poderes da educação. Ou por acreditar que vale a pena investir em outras urgências, como salvar bancos ou fazer propaganda política. Cristovam Buarque escapa e contra-ataca, elogiando a revolução educacionista e enfatizando que o trabalho do professor, do educador, precisa ser garantido e valorizado. Este mesmo educador educacionista, no entanto, não poderá exigir-se menos. Se merece ser apoiado e (vamos ao concreto) receber um salário melhor, trabalhar em condições melhores, também dele esperamos novas atitudes, novo comportamento.
§5 Deverá superar práticas artesanais, ingressar na Idade Mídia. Lembrando que educadores são também os familiares. Os alunos necessitam da escola, mas se a família não cumprir a sua parte, inclusive para acompanhar o modo como as crianças e jovens lidam com a mídia e como são tratados na escola, todos os investimentos que se fizerem serão insuficientes.
§6 A educação liberta. Há uma semelhança entre o movimento abolicionista do século 19 e este, educacionista, no século 21. Os escravos somos todos nós. Crianças sem escola, ou em escolas sem qualidade, estão algemadas ao subemprego. Adolescentes que não sabem ler e escrever como deveriam estão aprisionados à mediocridade. Adultos sem acesso ao conhecimento, à cultura, ao saber, são chicoteados diariamente pelo fracasso, estão a um passo de se tornarem inempregáveis.
§7 O educacionismo não existe sem educacionistas. O livro de Cristovam Buarque é um convite à adesão.
PERISSÉ, Gabriel. O Educador educacionista. In: Observatório da Imprensa. Ano 13, No. 509, 28 out. 2008. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2008.
No texto, os substantivos “educacionismo” e “educacionista” são apresentados por Cristovam Buarque:
de forma pejorativa, porque o autor ironiza o uso desses termos no contexto da educação.
com a intenção de moralização do discurso da educação como possibilidade, entendimento e promoção partidária.
para enfatizar a conotação negativa tanto dos “ismos” quanto dos partidários desses movimentos, caracterizados pelo sufixo “– ista”.
para assinalar que tanto os movimentos ideológicos quanto os sociais deveriam estar vinculados à política de centralização de poder.
para ressaltar a correlação entre o modo de pensar a educação como uma prática de construção social e a necessidade de partidários dessa corrente de pensamento.