Leia o texto a seguir para responder à questão.
O desafio da complexidade
Há uma inadequação cada vez mais ampla e grave entre os saberes separados entre disciplinas, e, por outro lado, a) realidades ou problemas cada vez mais transversais, multidimensionais, globais e planetários.
Em tal situação, tornam-se invisíveis: os conjuntos complexos, as interações e retroações entre partes e todo, as entidades multidimensionais, os problemas essenciais.
Os saberes estão cada vez mais hiperespecializados, ou seja, cada vez mais fechados em si mesmos sem permitir a integração em uma problemática global ou numa concepção de conjunto do objeto, considerando-se apenas um aspecto ou uma parte. De fato, essa hiperespecialização nos impede de ver o global (que é fragmentado em parcelas), bem como o essencial (que é diluído). Ora, os problemas essenciais nunca são parceláveis, e os problemas globais são cada vez mais essenciais. Além disso, todos os problemas particulares só podem ser posicionados e pensados corretamente em seus contextos; e o próprio contexto desses problemas deve ser posicionado, cada vez mais, no contexto planetário.
Os desenvolvimentos próprios do nosso século e de nossa era planetária nos confrontam, inevitavelmente e com mais e mais frequência, com os desafios da complexidade. Ela só é, de fato, considerada quando os componentes que constituem um todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico) são vistos de modo inseparável — considerando-se a interdependência e interatividade entre as partes eo todo, e entre o todo e as partes.
Efetivamente, a inteligência — que só sabe separar — fragmenta o complexo do mundo em pedaços, fraciona os problemas, unidimensionaliza o multidimensional. Atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma visão de longo prazo. Sua insuficiência para tratar nossos problemas mais profundos constitui um dos mais graves problemas que enfrentamos. Desse modo, quanto mais os problemas se tornam multidimensionais, maior é a incapacidade de pensar sua multidimensionalidade; quanto mais a crise progride, mais progride a incapacidade de pensar a crise; quanto mais os problemas se tornam planetários, mais eles ficam impensáveis. Uma inteligência incapaz de perceber o contexto e o complexo planetário fica cega, inconsciente e irresponsável. Como disseram Aurelio Peccei e Daisaku Ikeda: "O paradigma reducionista, que consiste em recorrer a uma série de fatores para regular a totalidade dos problemas levantados pela crise multiforme, que atravessamos atualmente, é tão problemático quanto o próprio problema que se pretende analisar”.
Assim, os desenvolvimentos disciplinares das ciências não
só trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os inconvenientes da superespecialização, do confinamento e do despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e as novas elucidações, mas também a ignorância e a cegueira.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p. 13-15. (Adaptado).
Defende-se no texto a seguinte tese:
o momento histórico atual requer da humanidade a construção de um novo modelo de ciência, baseado num paradigma epistemológico que leva em conta o caráter holístico e planetário dos problemas.
a hiperespecialização da ciência é a solução que os cientistas encontraram para expandir o conhecimento sobre unidades naturais muito pequenas, e deve ser expandida para a investigação de objetos maiores, não naturais.
os problemas sociais, econômicos e políticos da atualidade devem ser estudados, de forma verticalizada, por especialistas das áreas de Sociologia, Economia e Ciência Política, com vistas à descoberta de soluções efetivas para as crises.
a inteligência humana, num processo evolutivo contínuo, acumulou diversas formas de conhecer o mundo natural, algo que conduziu os humanos à condição de espécie reguladora e preservadora da natureza.