UNIFAN Medicina 2018/1

Leia o texto a seguir de Clarice Lispector para responder a questão.

 

Das vantagens de ser bobo

 

– O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
 – O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
 – Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
 – O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem.
 – Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas.
– O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
– O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
 – Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
 – Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.

– O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
– Aviso: não confundir bobos com burros.
– Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu, Brutus?"
– Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
 – Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.

 – Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
– O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
 – Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
– Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida.
– Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
– Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
 – Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
 – É quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. In: Clarice na cabeceira. Crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. p. 53- 55.

Analise as sentenças abaixo e julgue-as por meio dos sinais C para corretas e I para incorretas.

 

1. A palavra “aviso” pode ser substituída pelo vocábulo “advertência”, sem prejuízo de significação.

2. No trecho “César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu, Brutus?”, a autora faz menção à eloquência e à capacidade perquiritória de César, que segundo fatos históricos, utilizava a “maiêutica socrática” com seus interlocutores.

3. Na passagem “Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.”, o termo “Enquanto”, no contexto, exerce função de proporcionalidade de juízo de valores opostos.

4. Em “– Aviso: não confundir bobos com burros.”, há atividade transgênero, ou seja, determinadas características de um gênero, no caso, placas de interdição, foram incorporadas pelo gênero crônica.

5. O texto, utilizando um termo condicional, afirma indiretamente que Jesus Cristo foi um bobo.

6. Segundo as normas da língua padrão, em “há espertos que se fazem passar por bobos.”, “há” está empregado de forma inadequada.

7. O texto afirma diretamente que os espertos não são criativos.

8. Em determinado momento do texto, a vantagem de ganhar em “ganham” contempla tanto os espertos quanto os bobos.

9. “Aliás”, em “Aliás não se importam (...)”, denota sentido causal.

10. Clarice Lispector encerra o texto com foco na incondicionalidade do amor.

 

A alternativa que corresponde à análise é:

a

C, C, C, I, I, C, C, I, I, C.

b

I, C, I, I, I, C, C, C, I, C.

c

I, C, C, C, C, I, C, C, I, I.

d

C, I, C, C, C, I, I, C, I, C.

e

C, I, I, I, C, C, C, I, C, C.

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D
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