Leia o soneto seguinte, de Cláudio Manuel da Costa, e, de acordo com as características gerais do arcadismo, marque a única alternativa coerente:
Se sou pobre pastor, se não governo
Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes;
Se em frio, calma, e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;
Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, coas enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.
Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês, e o ano;
Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que da torpe lisonja o infame ruído.
(Cláudio Manuel da Costa)
Marque apenas a alternativa que faz uma leitura correta do poema de:
O eu lírico, que vive no campo, se demonstra tentado a uma vida de luxo na cidade, como se pode observar no verso “Tenho as paixões desse tormento eterno.”.
O conflito entre cidade e campo presente no poema reflete a insatisfação dos poetas ilustrados da arcádia brasileira, que, descontentes com a vida urbana colonial, almejavam uma vida campestre.
Observa-se no poema a dicotomia campo x cidade, em que a vida urbana é vista de forma negativa, enquanto a campestre de forma idílica e bucólica.
A visão negativa da vida pastoril presente no verso “Passar aflito o dia, o mês, e o ano;” é um reflexo da filosofia de Rousseau no arcadismo, que entendia a razão como o bem interior no homem.
Pode-se dizer que o poema é um exemplo atípico da influência do Barroco na poesia árcade brasileira, considerando o paradoxo presente no verso “Se em frio, calma, e chuvas inclementes”.