Leia o soneto “Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado”, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder à questão.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido1,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada2
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai3-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
(Códice Asensio-Cunha, 2013.)
1despido: despeço.
2cobrada: recuperada.
3cobrai: recuperai.
Na última estrofe, o eu lírico expressa-se de modo
desconfiado.
ingênuo.
ameaçador.
obsceno.
hesitante.