UNIFAN Medicina 2017/2

Leia o seguinte trecho do romance Lucíola, de José de Alencar, para a questão.

 

Capítulo V

 

    As grandes sensações de dor ou de prazer pesam tanto sobre o homem, que o esmagam no primeiro momento e paralisam as forças vitais. É depois que passa esse entorpecimento das faculdades, que o espírito, insigne químico, decompõe a miríada de sensações, e vai sugando a gota de fel ou de essência que ainda estila dos favos apenas libados.

    Foi o que me sucedeu; e não sei se no dia seguinte trocaria a voluptuosidade lenta e infinita de minhas recordações ainda recentes por outra hora da febre ardente que na véspera me prostrara nos braços de Lúcia. Mas então não me lembrava que vendo-a, todos os meus desejos, que eu supunha extenuados, iam acordar de novo, tigres famintos da presa em que uma vez se tinham cevado.

[...]

    Vi Lúcia sentada na frente do seu camarote, vestida com certa galantaria, mas sem a profusão de adornos e a exuberância de luxo que ostentam de ordinário as cortesãs, ou porque acreditem que a sua beleza, como as caixinhas de amêndoas, cota-se pelo invólucro dourado, ou porque no seu orgulho de anjos decaídos desejem esmagar a casta simplicidade da mulher honesta, quantas vezes defraudada nessa prodigalidade.

    Não me posso agora recordar das minúcias do traje de Lúcia naquela noite. O que ainda vejo neste momento, se fecho os olhos, são as nuvens brancas e nítidas, que se frocavam graciosamente, aflando com o lento movimento de seu leque; o mesmo leque de penas que eu apanhara, e que de longe parecia uma grande borboleta rubra pairando no cálice das magnólias. O rosto suave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas.

    A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase tímida, e a singeleza das vestes níveas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros. Entretanto o meu olhar ávido e acerado rasgava os véus ligeiros e desnudava as formas deliciosas que ainda sentia latejar sob meus lábios. As sensações amortecidas se encarnavam de novo e pulsavam com uma veemência extraordinária. Eu sofria a atração irresistível do gozo fruído, que provoca o desejo até a consunção; e conheci que essa mulher ia se tornar uma necessidade, embora momentânea, da minha vida.

    – É uma bonita mulher! disse ao meu vizinho, com um ar de indiferença para disfarçar a minha emoção.

    – A mais bonita mulher do Rio de Janeiro e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende.

    – Conheço-a apenas de vista; porém disseram-me que é uma boa moça, muito amável...

    – Oh! Posso falar a este respeito. Fui seu amante quatro meses.

    – E por que a deixou? Aborreceu-se?

    – Não a deixei. É seu costume; um belo dia, sem causa, sem o mínimo pretexto, declara a um homem que as suas relações estão acabadas; e não há que fazer. Podem oferecer-lhe somas loucas, é tempo perdido. Também no dia seguinte, ou no mesmo, daí a uma hora, toma outro amante que não conhece, que nunca viu.

    – Todas são assim, com pouca diferença; ninguém sabe qual é o fio que faz dançar essas bonecas de papelão.

   – Nem tanto. Há mulheres, que, ou por interesse, ou por amizade, ou mesmo por hábito, se inquietam com a ideia de que seu amante as abandone; mas para esta é absolutamente indiferente. Tem dias em que está de um humor insuportável: fica uma estátua, e não há forças humanas que possam arrancar daquela massa inerte um sorriso, uma palavra, um movimento. Se o homem não possui grande dose de paciência para sofrê-la calado, ela fecha-lhe a porta muito delicadamente, e manda-lhe dizer pela criada – “que tenha a bondade de deixá-la tranquila para todo o sempre”. – E uma vez dito, não volta.

    – Para quem tem direitos adquiridos, pareceme um tanto forte!

    – É o seu engano, continuou o Cunha que estava de veia. A Lúcia não admite que ninguém adquira direitos sobre ela. Façam-lhe as propostas mais brilhantes: sua casa é sua e somente sua; ela o recebe, sempre como hóspede; como dono, nunca. Na ocasião em que o senhor a toma por amante, ela previne-o de que reserva-se plena liberdade de fazer o que quiser e de deixá-lo quando lhe aprouver, sem explicações e sem pretextos, o que sucede invariavelmente antes de seis meses; está entendido que lhe concede o mesmo direito.

[...]

ALENCAR, José de. Lucíola. 16. ed. São Paulo: Ática, 1992, p. 27.

O romance Lucíola de José de Alencar faz parte da corrente literária denominada Romantismo. A respeito de tal escola literária, no Brasil, Dante Moreira Leite comenta: “O conceito que, para quase todos, representa mais de perto o Romantismo é o desequilíbrio. Há, fundamentalmente, o desequilíbrio entre o ideal do romântico e a realidade que pode atingir; daí a revolta diante do destino, ou diante das limitações impostas ao indivíduo, bem como de sua atitude de fuga, ora para o passado ora para a utopia e os movimentos de libertação.”

Romantismo: a independência e a formação de uma imagem positiva do Brasil e dos brasileiros. In: O caráter nacional brasileiro. São Paulo: Unesp, 2002. p.215.

 

Acerca das características do movimento e da estética Romântica, é verdade que:


1. é considerado, também, além de uma escola literária, um modo de vida que rompe com o racionalismo do Iluminismo e do Neoclassicismo.
2. enfatiza, em suas produções, o subjetivismo, o individualismo e a liberdade de criação.
3. propõe uma ruptura com a tradição clássica, embora resgate o passado histórico como uma de suas principais características.
4. valoriza e incorpora as características do sobrenatural e do mistério em suas produções narrativas, como por exemplo, nos contos de Álvares de Azevedo.
5. busca, na exaltação da Natureza, inspiração para o desenvolvimento de ideias e ideais, tais como o do “Bom selvagem”. Tal concepção apregoa que o homem é bom e puro, se em contato com a natureza, já que o espaço social é um espaço corrompido.
6. tem como uma de suas principais características a idealização do amor, desde que o suposto amor não infrinja regras socialmente constituídas.
7. a prosa encontra muitas possibilidades de manifestação, ou seja, as tendências temáticas são diversas e, entre elas, encontram-se as tendências: urbana, regionalista, histórica e indianista.
8. para os poetas e escritores vinculados ao Romantismo, a idealização da realidade pode ser tomada como um refúgio, uma fuga para mundos imaginários.
9. vincula-se, também, a questões sociais, como no caso do Brasil, em que alguns de seus autores pleiteavam a independência política e a abolição da escravatura.
10. uma das evidências da busca de certa autonomia “nacionalista” com relação a influência europeia é a adoção de um mito nacional, que resgata o passado histórico do Brasil: o indígena brasileiro. 

 

A soma dos números correspondentes às sentenças acima corretas é:

a

10.

b

28.

c

39.

d

45.

e

55.

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E
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