Leia o seguinte poema de Manuel Bandeira.
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
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— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 2d. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982, p. 97.)
Sobre o poema, analise as assertivas e marque a que corresponde à resposta CORRETA.
Publicado originalmente em O ritmo dissoluto, de 1924, “Pneumotórax” traz ainda os traços do penumbrismo dos primeiros poemas de Manuel Bandeira: uma melancolia temperada com ironia, aliada a fortes traços autobiográficos, como o atesta a referência à tuberculose.
Servindo-se do verso livre e do diálogo, este poema, lançado em seu primeiro livro, A cinza das horas, de 1917, é emblema do papel pioneiro que Manuel Bandeira iria exercer no modernismo, o que lhe mereceu a alcunha de “São João Batista” do movimento.
Poema de Estrela da tarde, livro da maturidade do poeta, de 1960, “Pneumotórax” retoma os principais elementos da fase modernista de Bandeira: o humor, a ironia e a forma livre.
Este poema dialoga com outro de Carlos Drummond de Andrade, “Poema de sete faces”, que tematiza a desilusão e a desesperança do poeta.
Este poema, do livro Libertinagem, de 1930, exemplifica o poema-piada, muito utilizado na primeira fase do modernismo.