Leia o poema.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Fonte: MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 18.
Assinale a alternativa correta.
O sujeito lírico, nesse poema, arrependido de seus pecados, pede perdão a Deus com amplo sentimentalismo, sem a intervenção da razão.
A presença frequente de antíteses na lírica amorosa de Gregório de Matos faz desse poema um exemplo de representação do homem barroco, dividido entre a vida mundana e a religiosidade cristã.
O sujeito lírico do poema constrói, com base em um episódio bíblico, um discurso racional na tentativa de convencer Deus de que ele deve ser perdoado de seus pecados.
A ovelha desgarrada, mencionada no poema, diz respeito ao sujeito lírico, de maneira que, assim, ele se compara ao próprio Cristo.
Apesar do pedido de perdão por seus pecados, o sujeito lírico reconhece, ao final do poema, que Deus deve cobrar seu arrependimento para que a glória divina não se perca em vão.
Para resolver esta questão, precisamos analisar como o eu-lírico se dirige a Deus, pedindo perdão por seus pecados e, ao mesmo tempo, fazendo uso de argumentos racionais e referências bíblicas para convencê-Lo a absolvê-lo. Observamos o uso de antíteses, característica do barroco, e a alusão à passagem da ovelha perdida, recuperada por Deus, que traz glória ao Senhor ao perdoar seus fiéis. Dessa forma, percebemos que o poema constrói um discurso lógico e persuasivo para obter o perdão divino. É justamente esse aspecto racional que define a correção da alternativa C.
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