UNICENTRO 2021
Leia o poema “Fraga e sombra”, de Carlos Drummond de Andrade, a seguir.
FRAGA E SOMBRA
A sombra azul da tarde nos confrange.
Baixa, severa, a luz crepuscular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.
Música breve, noite longa. O alfange
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar
Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.
E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.
(ANDRADE, C. D. de. Claro enigma. In: Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: INL, 1983. v. 1. p. 264.)
Sobre o poema, assinale a alternativa correta.
Trata-se do único soneto a figurar entre os poemas de Claro Enigma, evidenciando o desgaste dessa forma poética em meados do século XX.
É composto por versos decassílabos que se intercalam com versos alexandrinos, proporcionando um hibridismo métrico tipicamente modernista.
As rimas, embora ocorram de forma incomum – entre versos de diferentes estrofes –, são ricas, como em “confrange” e “tange”.
A uniformidade dos versos alexandrinos no soneto contrasta com a dramaticidade progressiva na expressão poética.
O recurso do enjambement aparece mais de uma vez no poema, como ilustram o segundo quarteto e o último terceto.
E mais: nota TRI a todo o momento.
