Leia o poema Explicação, de Carlos Drummond de Andrade, e assinale a questão errada a respeito do texto e do autor.
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.
Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?
(De Alguma poesia – 1930)
O poema inicia-se com metáforas que vão mostrar o quanto a “cachaça” dos versos é importante, pois serve para louvar e para exteriorizar sentimentos.
A função de linguagem predominante é a emotiva “mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota”.
Há versos que mostram a vida do poeta “Ah, ser filho de fazendeiro!/ A casa colonial da fazenda também era.../ Quem me fez assim foi minha gente e minha terra”.
A objetividade do poema e o falar de assuntos pessoais afastam o texto da temática comumente explorada por Carlos Drummond de Andrade que, normalmente, costuma mais explorar temas sobre o fazer poético, os amigos e a família, além de falar sobre a guerra.
No final do poema, ao fazer a comparação entre a Europa e o Brasil, há a valorização das coisas nacionais “e no fim dá certo.” e o poeta joga para o leitor a responsabilidade “Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.”