Leia o poema:
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste.
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ¿cou imóvel, sem compreender
Nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.
Mário Quintana - Canções
Pela análise do poema e considerando o momento literário de sua produção, pode-se afirmar que
há uma preocupação marcante com uma forma já mais elaborada de poema, seguindo padrões estabelecidos antes do modernismo, mas rompendo pelo conteúdo.
o tom amoroso é retomado em uma dimensão mais profunda que no romantismo, porque seguido de um desconforto existencial, também visto em outros poetas da segunda fase modernista.
o eu-Iírico se entrega ao sentimento, desconstruindo todo conceito que existia anteriormente, rompendo consigo mesmo para viver o outro e para o outro.
a escolha das palavras (léxico do poema) rompe com a lógica e desconstrói a imagem do eu-Iírico apresentada na primeira parte do poema.
a referência ao espantalho remete ao cunho nacionalista do qual faz parte na primeira fase modernista, numa retomada à cultura brasileira.