Leia o poema “Ela canta, pobre ceifeira”, do escritor Fernando Pessoa (1888-1935), para responder à questão.
Ela canta, pobre ceifeira1,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p’ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ’stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
(O guardador de rebanhos e outros poemas, 1997.)
1 ceifeira: mulher que trabalha no corte de cereais.
No poema, o escritor recorre a uma construção paradoxal no seguinte verso:
“E há curvas no enredo suave” (2a estrofe)
“Ondula como um canto de ave” (2a estrofe)
''Ouvi-la alegra e entristece,” (3a estrofe)
“Ter a tua alegre inconsciência,” (5a estrofe)
“Pesa tanto e a vida é tão breve!” (6a estrofe)
Para responder esta questão, o aluno deve identificar o verso que contém um paradoxo, ou seja, uma figura de linguagem que une ideias opostas, aparentemente contraditórias, mas que, em um contexto poético, ganham significado especial. O paradoxo está presente no verso da terceira estrofe "Ouvi-la alegra e entristece", onde o ato de ouvir a ceifeira cantar provoca sentimentos opostos simultaneamente.
Busque no poema versos que contenham ideias ou sentimentos que sejam opostos entre si.
Reflita sobre a figura de linguagem que consiste em unir conceitos contraditórios para transmitir uma mensagem especial.
Considere o contexto em que a ceifeira canta e como isso afeta o eu lírico.
Confundir metáforas com paradoxos por não identificar a presença de elementos contraditórios.
Associar comparações poéticas com paradoxos sem avaliar se há contradição real entre as ideias.
Escolher o verso correto, mas por dedução superficial, sem entender o conceito de paradoxo.
Confundir desejo ou aspiração do eu lírico com a construção de um paradoxo.
Interpretar contrastes como paradoxos sem que haja uma união de opostos em um mesmo elemento.
Um paradoxo é uma figura de linguagem que combina ideias aparentemente contraditórias para revelar uma verdade mais profunda. A poesia frequentemente utiliza paradoxos para expressar a complexidade das emoções humanas e destacar contrastes.