Leia o poema de Thiago de Mello para responder à questão.
Milagre que dói
De que me vale a mordida
inútil da indignação
perante a fome que fere
a vida da multidão
de deserdados do mundo?
De que me vale a palavra
queimando no coração
que há tempo se ergue em clamor
contra o que mancha a beleza
e degrada a dignidade
de um homem que é meu irmão?
São oitocentos milhões,
estatística sinistra,
no mundo inteiro, que vivem
sem saber gosto de pão.
Porque mais perto de mim,
me queima o fogo da fome
das crianças barrigudinhas
de amebas, magras, banguelas
e contudo vivem, nadam
e brincam. Só de milagre
da verde mão da floresta.
Viajando o Amazonas, 96.
(Campo de milagres, 1998.)
O verso em que a dor do eu lírico diante do sofrimento do próximo está expressa em linguagem figurada é:
“me queima o fogo da fome” (4ª estrofe)
“sem saber gosto de pão.” (3ª estrofe)
“da verde mão da floresta.” (4ª estrofe)
“São oitocentos milhões,” (3ª estrofe)
“a vida da multidão” (1ª estrofe)