Leia o poema de Bocage.
Nariz, nariz, e nariz,
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz que Newton não quis
Descreve-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!
(Poesia arcádica, 1985.)
A intenção do eu lírico realiza-se em um
poema lírico, no qual se podem entrever os dramas subjetivos da existência, como nos versos: “Nariz, que se ele desaba, / Fará o mundo infeliz;”.
poema profano, que traz a negação da fé religiosa católica ao tratar de tema mundano, já expresso no primeiro verso: “Nariz, nariz, e nariz,”.
poema piada, com a intenção de desqualificar a ciência e seus representantes: “Nariz que Newton não quis” / “Que, se o cálculo não erra,”.
poema conceitual, abordando aspectos do desenvolvimento das ciências, o que fica evidente com o verso: “Faria eclipse total!”.
poema satírico, como se pode comprovar pela alusão hiperbólica às dimensões do nariz: “Nariz, que nunca se acaba;” / “Nariz de massa infernal,”.