Leia o poema apresentado a seguir.
Minha desgraça
Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.
AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 245-246.
No poema transcrito, a reflexão de caráter metalinguístico, expressa de forma satírica pelo eu lírico, desconstrói a
figura idealizada das heroínas românticas.
ideia de supremacia da temática amorosa.
valoração da literatura para os artistas burgueses.
imagem sublimada da produção de um texto poético.
representação do poeta como ser questionador.