Leia o poema abaixo:
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que eu escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
de impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide automático
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
− Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que eu escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
(“Vou-me embora pra Pasárgada”, in: Libertinagem, Manuel Bandeira)
Assinale a afirmação incorreta sobre o poema:
ocorre uma oposição entre aqui, onde a vida é madrasta (e o poeta não é feliz), e lá, um paraíso idealizado (onde o poeta pode ser feliz).
Pasárgada é um paraíso encantado onde o poeta realiza vários desejos: de poder (amigo do rei), materiais (telefone automático) e carnais (mulher que eu quero).
o “eu” poético faz uso de expressões da linguagem coloquial.
há elementos formais da poética modernista (ausência de rimas e de estrofes regulares).
o poema se liga ao título do livro Libertinagem, quando o “eu” poético diz ter a mulher que quiser e quando afirma ter prostitutas para namorar.