UFGD 2019

Leia o poema abaixo, de O livro sobre nada, de Manoel de Barros.

 

AS LIÇÕES DE R.Q.

 

Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem de suas derrotas.
Só uma alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar – como em Chagall.
Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.
[...] 

Disponível em: https://prosacomcultura.wordpress.com/2010/06/26/as-licoes-der-q Acesso em: 29 ago. 2018.

 

Sobre o poema, é correto afirmar que foi construído segundo

a

versificação frequente no livro, o poema é feito de estrofes irregulares e versos sem rimas, abordando, metalinguisticamente, a resignação do eu lírico quanto à imutabilidade do mundo e da natureza, tema ali recorrente. 

b

fórmula frequente no livro, o poema se estrutura enunciando aforismos, que, assumindo por vezes a feição de regramentos (injunções), propõem meios de relacionamento entre a razão e emoção, tema recorrente do eu lírico. 

c

fórmula frequente no livro, o poema alude ao modo de ser de certo personagem, no qual o eu lírico se espelha, definindo-se, no caso do poema, metafísica e poeticamente, enquanto ser humano e artista, na sua relação com a natureza e com o divino. 

d

fórmula frequente no livro, sem contradições, com linguagem clara, sem neologismos ou singularidades sintáticas, o poema fala do tormento e da derrota como meios de transfiguração do mundo pela arte, um dos objetivos da poética do eu lírico. 

e

fórmula frequente no livro, o poema se apresenta, como vários outros, como um conjunto de lições dadas ao eu lírico por um artista consagrado, nesse caso, o pintor boliviano, Rômulo Quiroga, sinalizando, com isso, aspecto de uma poética intertextual, com intenso diálogo com outras artes.

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