Leia o poema a seguir.
VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Pau d'Arco, 1901.
ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. p. 94-95.
O poema “Versos íntimos” explora uma temática recorrente na poética de Augusto dos Anjos, a qual se expressa na
aceitação do caráter contraditório do homem.
negação de qualquer valor à vida humana.
concepção determinista do comportamento do homem.
constatação da miséria inerente à vida humana.