Leia o poema a seguir e responda a questão.
Soneto
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E ainda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
(ALBANO, J. Soneto. In: BANDEIRA, M. Apresentação da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.]. p. 248.)
Sobre José Albano, fez Darci Damasceno as seguintes observações: “Seu valor como poeta independente é dos maiores de nossa literatura: foge, entretanto, a qualquer tentativa de arrolamento entre as figuras de sua geração, visto não representar uma tendência nem herança próxima do Parnasianismo ou do Simbolismo.” (DAMASCENO. In: COUTINHO, 1986. v. 4, p. 607).
Com base nas avaliações do crítico, nas informações sobre o autor e no poema, assinale a alternativa correta.
A ideia da preservação de uma vida errante desde o passado até o presente do sujeito lírico desvincula o poema dos valores românticos.
A opção pelo soneto reforça a avaliação do crítico quanto à distância entre o poeta e as práticas parnasianas.
A valorização dos sonhos após a constatação das desventuras remete à afinidade entre o sujeito lírico e o estado de espírito romântico.
A expressão lírica caracterizada pela oscilação de emoções associada ao ato poético representa postura avessa à frieza parnasiana.
O predomínio da alegria e do contentamento sobre as dores já superadas no presente identifica o poema com a irreverência modernista.