Leia o poema a seguir e responda à questão.
Para a feira do livro
Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido vegetal de folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que o vento em folha de livro.
Todavia, a folha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania, varrendo o podre a zero.
Silencioso: quer fechado ou aberto,
Inclusive o que grita dentro; anônimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam as suas redes.
Mas apesar disso e apesar do paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.
(MELO NETO, João Cabral de. Os melhores poemas de João Cabral de Melo Neto. São Paulo: Global, 1985. p. 194.)
Sobre a segunda estrofe do poema, assinale a alternativa correta.
O livro é apontado como uma produção diferente da pintura na parede, representada pelo quadro, como um detalhamento da caracterização do livro como “modesto”.
O livro é descrito como “aberto a vida toda”, assim como ocorre com o quadro na parede que expõe a pintura.
A pintura na parede, representada pelo quadro, é exaltada em comparação com a música, pois naquela há eternidade, enquanto nesta predomina a fugacidade.
A música é identificada como uma arte cujo ponto em comum com o livro é a abertura e a possibilidade de permitir voos.
A figura do leitor é enfatizada nos dois últimos versos do poema como um ser misterioso e solitário que usufrui do ato da leitura em situação de individualidade.