Leia o poema a seguir, de José Paulo Paes, e faça o que se pede.
“A casa
Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de purpurina.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.
No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo.
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.
E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos.
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.
Antes que ele acorde e se descubra também morto.”
José Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas.
Assinale a alternativa INCORRETA
A atitude fundamental da lírica é a recordação, o que pode resultar numa sobreposição temporal. Desta forma, o tempo se embaralha e presente e passado se fundem. No poema, são os fatos e não os verbos que determinam essa fusão temporal.
O texto é uma fusão de características da épica e da lírica. No que diz respeito à lírica, sobressaem a repetição, a concisão, a fusão entre sujeito e mundo evocado. E, sobre a épica, destacam-se a presença de personagens, uma história que se conta.
A atmosfera onírica que percorre o texto confere um caráter sobrenatural aos acontecimentos, permitindo que coisas impossíveis se realizem, tais como “lustra cuidadosamente seu próprio caixão” e “No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha”.
Este poema em prosa narra em primeira pessoa a história de um menino assombrado pela presença dos mortos de sua família. Tendo em vista o clima onírico em que os acontecimentos se desenrolam, não é possível saber quem é esse “menino medroso que espia todos eles”.