Leia o fragmento:
Quando o mal-estar com o mundo atual surge na mesa de bar, pode contar: alguém vai sacar a palavra “líquido”. Mas o papo vai além do chope: em uma das maiores livrarias da Zona Sul do Rio, todos os clientes abordados pelo GLOBO disseram conhecer bem o termo. As interpretações variam, mas são sempre associadas a mudanças bruscas, vida acelerada, afetos passageiros... O tal cotidiano pós-moderno.
— Tenho uma amiga que usa “líquido” direto. Para falar de rolos, emprego... Tudo é líquido — conta Victor Furtado, de 22 anos, atingido pelo “liquidez” na faculdade de Psicologia.
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Amor líquido (BAUMAN, 2004), por exemplo, trata da afetividade de um tempo em que tudo é passageiro, conceito ideal para a era de aplicativos como o Tinder
(Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/ tudo-liquido-como-um-termo-filosofico-se-torna-parte- -do-vocabulario-das-pessoas-23438519. Acesso em: 24 jan. 2020.)
No Brasil, o termo liquidez chegou por meio das ideias do pensador polonês Zygmunt Bauman (1925- 2017). Ele trouxe algumas palavras-chave, tais como: “Modernidade líquida”, “Amor líquido”, “Vida líquida”... até “Mal líquido”.
A respeito dessa temática, analise as assertivas a seguir:
I - No que se refere ao “Amorlíquido”, Bauman propõe a diferenciação entre parentesco e afinidade. O primeiro seria o laço irredutível: o laço de sangue; já o segundo é eletivo e escolhido. Bauman afirma que as relações de parentesco como a de afinidade, por causa de suas definições, não adentram no universo de “Amor líquido”. Portanto, a ideia de “Amor líquido” só é possível nas relações virtuais.
II - O diferencial de Bauman são as metáforas com as quais o público facilmente se identifica. Por exemplo, ele propõe uma correlação entre a relação social e a chamada conexão. Em suas pesquisas, Bauman observa os sites de relacionamento e percebe que a facilidade de esquecer o outro, de se desconectar, é o que agrada ao usuário desses sites de encontros.
III - Segundo Bauman, a sociedade não está consciente da liquidez do mundo, por conseguinte é uma questão de “abrir os olhos”. A sociedade precisa entender as urgências do mundo, tais como: o aquecimento global, os recursos planetários incapazes de sustentar a filosofia e a prática de crescimento econômico e de consumo infinito. Portanto, é preciso romper com a modernidade (velhas ideias) e adentrar na pós-modernidade, enxergando as urgências do mundo.
IV - Bauman propõe uma crítica às relações, pois essas se desenvolvem com aquilo que já se tem, não com aquilo que as pessoas envolvidas estão a fim de ter. Nas relações atuais, o homem não se arrisca a amar sinceramente (entregar-se). O autor leva isso até para o campo político: é na falta do verdadeiro amor que a militância se perde. Não há amor pela causa, não há tentativa de manter um relacionamento com o programa de um coletivo, de um partido ou de um movimento.
Em relação às assertivas analisadas, assinale a única alternativa que apresenta todos os itens corretos:
I e II apenas.
I e III apenas.
II e IV apenas.
III e IV apenas.
Nesta questão, analisam-se quatro assertivas a respeito dos conceitos de Zygmunt Bauman sobre a ideia de “modernidade líquida”, especialmente o chamado “Amor líquido” e suas implicações para as relações pessoais e sociais. A alternativa correta, de acordo com a avaliação das afirmações, é (C) II e IV apenas.
Para chegar a essa conclusão, vamos analisar cada afirmação:
Como resultado, apenas as assertivas II e IV se mostram de acordo com as ideias de Bauman sobre a liquidez das relações e da modernidade. Portanto, a alternativa que indica corretamente essas duas como verdadeiras é:
(C) II e IV apenas.
Modernidade Líquida é um conceito de Zygmunt Bauman para descrever as relações e estruturas sociais na contemporaneidade, marcadas pela volatilidade e incerteza. Tudo se torna mais “fluido”: profissão, relacionamentos e compromissos, simbolizando a fragilidade dos laços.
No Amor Líquido, Bauman aponta para a fragilidade e brevidade das relações afetivas, além da falta de compromisso e da facilidade em “desconectar-se”.
Virtualidade e “desconexão” mencionadas pelo autor relacionam-se à substituição rápida de relacionamentos, mas ele não se limita ao universo virtual: a liquidez também está presente em relações presenciais.