Leia o fragmento a seguir, parte do conto “O Vampiro de Curitiba” (1965), de Dalton Trevisan.
Por que Deus fez da mulher o suspiro do moço e o sumidouro do velho? Não é justo para um pecador como eu. Ai, eu morro só de olhar para ela, imagina então se. Não imagine, arara bêbada. [...]. No fundo de cada filho de família dorme um vampiro ‒ não sinta gosto de sangue.
TREVISAN, Dalton. O Vampiro de Curitiba. In: MORICONI, Ítalo (Org). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 252.
A partir do trecho, assinale a alternativa INCORRETA.
O fragmento revela o íntimo atormentado do narrador, que se debate entre o desejo e a necessidade de contenção.
A expressão “morro só de olhar para ela” é uma redundância, já que é senso comum a ideia de equivalência entre desejo e autossacrifício.
Em “morro só de olhar para ela imagina então se.”, o narrador interrompe a oração e, assim, evita nomear desejos impróprios.
A afirmação “No fundo de cada filho de família dorme um vampiro” constitui um paradoxo.
Ao definir a si mesmo como “arara bêbada” e como “vampiro”, o narrador-personagem parece ciente de seu caráter vicioso.