Leia o excerto do conto “Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector, para responder a questão.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante (LISPECTOR, 1996, p. 7).
Observe os termos destacados nas orações a seguir.
I. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
II. Horas depois o abri, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa [...].
III.Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.
IV. Eu era uma rainha delicada.
Agora, assinale a assertiva que traga a função sintática correta dos termos destacados em negrito, de acordo com a sequência apresentada nas frases I, II, III e IV.
Objeto indireto, objeto direto, objeto direto e adjunto adverbial.
Predicativo do sujeito, complemento nominal, objeto direto e predicativo do sujeito.
Objeto indireto, sujeito, objeto indireto e objeto direto.
Objeto direto, adjunto adnominal, objeto direto e predicativo do sujeito.
Objeto direto, objeto direto, objeto indireto e predicativo do sujeito.
Neste trecho, cada termo destacado ocupa uma função sintática diferente. Observa-se que na primeira frase, “Fingia que não o tinha”, a oração “que não o tinha” exerce função de objeto direto do verbo “fingir” (verbo transitivo direto que pede complemento sem preposição). Já em “li algumas linhas maravilhosas”, o trecho “algumas linhas maravilhosas” funciona como objeto direto do verbo “ler”. Em “Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina”, o segmento “para aquela coisa clandestina” indica a quem (ou a quê) essas dificuldades eram destinadas, caracterizando-se como objeto indireto, pois completa o sentido do verbo “criar” com a preposição “para”. Finalmente, em “Eu era uma rainha delicada”, a expressão “uma rainha delicada” descreve o sujeito “eu” após o verbo de ligação “ser”, configurando predicativo do sujeito.
Assim, a sequência correta é: objeto direto (I), objeto direto (II), objeto indireto (III) e predicativo do sujeito (IV).
Para analisar termos de uma oração, é importante identificar o tipo de verbo (transitivo direto, transitivo indireto, bitransitivo, de ligação etc.) e o papel que o termo em destaque desempenha. Objetos diretos completam o verbo sem preposição obrigatória; objetos indiretos exigem uma preposição inerente ao sentido do verbo; predicativos do sujeito são expressões que atribuem característica ou estado ao sujeito por meio de verbos de ligação; complementos nominais e adjuntos adnominais costumam referir-se a substantivos, mas complementos nominais são necessários ao sentido do substantivo, enquanto o adjunto adnominal o apenas modifica.