Leia o conto de Mário Quintana para responder à questão.
Velha história
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no “17”! − o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial…
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!…”
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando até que o peixinho morreu afogado…
(Eu passarinho, 2006.)
O texto começa com “Era uma vez”, o que, por convenção, anuncia uma narrativa fantasiosa, isto é, que possui elementos que subvertem as leis usuais do mundo.
Um elemento fantasioso do texto é o fato de
o peixe sobreviver fora d’água como um animal terrestre.
o homem praticar habitualmente a pescaria.
o peixe ser pequeno, frágil e indescritivelmente colorido.
o homem devolver, sem consternação, o peixe ao rio onde ocorrera a pescaria.
o peixe pensar e falar regularmente, como o pescador.
O conto de Mário Quintana apresenta uma narrativa que começa com a expressão 'Era uma vez', usualmente utilizada para introduzir contos de fadas ou histórias com elementos fantásticos. Ao analisar o texto fornecido, é possível identificar que a narrativa incorpora elementos fantásticos, ou seja, eventos que não ocorreriam seguindo as leis naturais do mundo real. O estudante deve identificar qual dos elementos citados nas opções de resposta se enquadra nessa característica.
Considere as características comuns dos peixes e como eles se comportam no mundo real.
Identifique qual elemento citado é impossível ou altamente improvável na natureidade dos animais.
Reflita sobre o que seria impossível na relação entre o homem e o peixe no mundo real.
Confundir descrições poéticas ou metafóricas com elementos fantasiosos.
Ignorar a expressão 'Era uma vez' e não associá-la à introdução de elementos fantásticos na narrativa.
Achar que o texto precisa apresentar uma fantasia óbvia e não perceber as sutilezas do fantástico no cotidiano.
Em literatura, um texto que contém elementos fantásticos é aquele que introduz acontecimentos ou características que não correspondem à realidade conhecida, desafiando as leis da natureza ou da sociedade. Esses elementos são usados para provocar surpresa e reflexão no leitor, permitindo explorar temas profundos de maneira criativa e simbólica.