Leia o conto “Apelo”, de Dalton Trevisan, para responder a questão.
Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
a varanda. E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada — o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
(In: Alfredo Bosi. O conto brasileiro contemporâneo, 1997.)
Segundo o próprio narrador, o amor que ele sente se expressa
no fato de as plantas murcharem, apesar de terem sido regadas.
no prazer por ele experimentado nos primeiros dias sem a Senhora.
nas discussões eventuais sobre pequenas questões cotidianas.
em sua incapacidade de, na ausência da Senhora, manter a casa organizada.
em suas tentativas de, na ausência da Senhora, regar as plantas.