Leia este trecho da obra “O Guarani”, de José de Alencar.
“Com efeito, uma montanha branca, fosforescente, assomou entre as arcarias gigantescas formadas pelas florestas, e atirou-se sobre o leito do rio, mugindo como o oceano quando açoita os rochedos com as suas vagas.
A torrente passou, rápida, veloz, vencendo na carreira o tapir das selvas ou a ema do deserto; seu dorso enorme se estorcia e enrolava pelos troncos diluvianos das grandes árvore, que estremeciam com o embate hercúleo.
Depois, outra montanha, e outra, e outra, se elevaram no fundo da floresta; arremessando-se no turbilhão, lutando corpo a corpo, esmagando com o peso tudo que se opunha à sua passagem.
Dir-se-ia que algum monstro enorme, dessas jibóias tremendas que vivem nas profundezas da água, mordendo a raiz de uma rocha, fazia girar a cauda imensa, apertando nas suas mil voltas a mata que se estendia pelas margens.
Ou que o Paraíba, levantando-se qual novo Briareu no meio do deserto, estendia os braços titânicos, e apertava ao peito, estrangulando-a em uma convulsão horrível, toda essa floresta secular que nascera com o mundo.
As árvores estavam arrancadas do seio da terra ou partidas pelo tronco, prostavam-se vencidas sobre o gigante, que, carregando-as ao ombro, precipitava para o oceano.
O estrondo dessas montanhas de água que se quebravam, o estampido da torrente, os trôos do embate desses rochedos movediços, que se pulverizavam enchendo o espaço de neblina, formavam um concerto horrível, digno do drama majestoso que se representava no grande cenário.”
Esse trecho:
Apresenta um episódio catastrófico natural, atualmente chamado de Tsumani, que destruiu a fazenda de Antonio Muniz e deu fim à história.
Faz alusão ao Mito de Noé e ao Mito de Tamandaré. Ambos retratam o dilúvio que destrói toda a população salvando apenas um homem e uma mulher para renovar a terra que, no livro, eram representados por Peri e Ceci.
Permite inferir que trata-se de um sonho ou uma alucinação vivenciada pela personagem Ceci, que demonstrava ter verdadeiro pavor de pensar que poderia perder seu amigo Peri, haja vista os adjetivos utilizados na descrição do episódio.
Mostra a inveracidade desse fato comprovada pelo súbito desaparecimento de todos os personagens, restando apenas Peri e Ceci, que se salvam da morte abrigando-se no topo de uma palmeira, o que seria impossível dada proporção do dilúvio.