Leia este resumo e este fragmento do livro “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo, para responder à questão.
O romance Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo, foi publicado em 1938. Enquadra-se na segunda fase do Modernismo brasileiro. O foco do livro é a vida conturbada do personagem Eugênio, que, apesar de ser pobre, forma-se médico. Eugênio apaixona-se por Olívia, uma colega de faculdade que o ajuda a superar as crises existenciais. Por pretender ascender socialmente, casa-se com Eunice, uma jovem rica. Após o casamento, Eugênio passa a trabalhar na fábrica do sogro, deixando de lado a medicina. Gradativamente percebe que o casamento foi um erro, já que se sente deslocado num meio social em que o mais importante é o dinheiro. Relaciona-se com Isabel, sua amante; porém, em seu interior, nada se altera. Eugênio, cheio de conflitos, procura Olívia em busca de conforto. Olívia, algum tempo depois, morre, deixando-lhe uma filha, Ana Maria, e um grande vazio.
[Olhai os lírios do campo] – fragmento
Naquele dia, chegaram aos ouvidos de Eugênio as últimas versões sobre o rompimento com Eunice. Dizia-se que ele havia apanhado a mulher nos braços de Filipe – afirmavam uns –, nos braços de Acélio Castanho – garantiam outros. [...].
Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar. Limitou-se a sorrir, e depois que ficou a sós não pôde deixar de perguntar a si mesmo como lhe fora possível encarar os fatos de uma maneira tão desligada, tão superior e serena. Se lhe tivessem contado aquelas infâmias em outro tempo, ele teria sentido dor física, teria ficado num estado de absoluta prostração, numa angústia que se prolongaria durante dias e dias.
Os homens eram perversos – concluiu ele. Mas depois corrigiu-se: havia homens muito perversos. Não bastariam as misérias reais da vida, aquelas de que tinha todos os dias dolorosas amostras na sua clínica? Algumas pessoas achavam um prazer depravado em inventar misérias. Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia, numa das suas cartas: “Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: estarei fazendo uma viagem agradável? Mas eu asseguro que o mais humano seria perguntar: estarei sendo um bom companheiro de viagem?” Realmente, os homens, em geral, eram maus companheiros de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em ser inimigos uns dos outros. O sensato seria que se unissem numa atitude de defesa e que se trocassem gentilezas, a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.
Enquanto a seringa fervia e o paciente – um rapaz magro e amarelo – esperava, sem casaco, com uma das mangas arregaçadas, Eugênio chegava mais uma vez à mesma conclusão. A gentileza podia melhorar o Mundo. Se os homens cultivassem a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tem de áspero e brutal.
Eugênio olhava para o braço magro do cliente, mas na realidade só via as imagens dos seus pensamentos. A chama do álcool extinguiuse. Eugênio segurou a seringa com a pinça.
(VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Editora Globo, 1938)
A força expressiva da metáfora advém do fato de fornecer uma analogia condensada e um julgamento de valor concentrado. Assinale a alternativa que exemplifica essa consideração.
“Eugênio ouviu os mexericos sem se perturbar.”
“Os homens eram perversos [...]”
“[...] a fim de que a viagem fosse mais agradável para todos.”
“Eugênio olhava para o braço magro do cliente [...]”.