Leia este fragmento do poema "Procura da poesia", de Carlos Drummond de Andrade, e responda à questão.
Texto
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície inata.
Ei-lo sós e mudos, em estado de dicionário.
...................................................................
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Nestas alternativas, afirmam-se várias coisas a partir da leitura do poema, entretanto uma está incorreta.
Assinale-a.
O dicionário acolhe friamente as palavras. Só quando saem dele e se incorporam ao contexto, elas atendem às necessidades expressivas dos usuários da língua.
Os poemas precisam das palavras para nascerem, mas isso só acontece quando, neles, elas se recriam, assumindo uma significação diferente do sentido amplo e conhecido.
Ao dizer que cada palavra "tem mil faces secretas sob a face neutra", o poeta está aludindo à ideia de que cada palavra pode provocar efeitos especiais aos diversos contextos, por fugir do uso comum da língua e ganhar vida em um determinado momento.
Por estarem no imperativo, gramaticalmente os verbos penetrar, chegar e contemplar podem ter a noção de comando, de exortação ou de súplica, mas como estão inseridos em um texto literário, não se pode afirmar qual dessas noções eles assumem no tom de voz do poeta.
Se não for capaz de decifrar o enigma das palavras e recriá-las, a partir das já existentes no dicionário da língua, um escritor está relegado ao desprezo (e te pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre ou terrível, que lhe deres: / Trouxeste a chave?).