Leia com atenção o fragmento abaixo:
Por muitos anos esqueci. Por tantos anos esqueci, que expulsei da memória o fato que vou narrar. [...] Fiz de conta que nada tinha acontecido naquele meio do dia, num restaurante da cidade de Fort Worth, no Texas. Nada tinha acontecido no meio de um dos primeiros dias de janeiro de 1963, depois de uma longa e cansativa viagem de ônibus de Nova Orleans, na Louisiana, até Albuquerque, no Novo México. [...] Procurei como espião em terreno inimigo o lugar do banheiro. Sorrateiramente. Descobri. Havia quatro portas de entrada para banheiro. Duas a duas. Um dos conjuntos de dois ficava ao lado de uma lanchonete limpa, guarnecida de metais brilhantes, e o outro conjunto, ao lado de qualquer coisa como um boteco pé-dechinelo. [...] Observei os dois conjuntos e fingi que não entendia. [...] Optei pelo banheiro dos Men, como poderia ter optado pelo banheiros dos Gentlemen. [...] No banheiro onde entrei só havia mulatos e negros. Observei. Conferi pela memória: eram também maioria no ônibus. Não fora por acidente que me tocara viajar ao lado de um negro. [...] Eu era o único de pele clara dentro do banheiro, dentro do ônibus. [...] De relance redescobri a segregação, que tinha descoberto nos bondes de Nova Orleans, onde os pretos tinham de viajar em pé. [...] Chegamos a Fort Worth. [...] Decidi. Almoçaria num bom restaurante da cidade. Tomei um táxi. Pedi sugestão ao motorista. [...] Entrei, escolhi uma mesa e tomei assento. Esperei o garçom. Esperei. Esperei. Os garçons não passavam pela minha mesa. Não recebi o cardápio nem me ofereceram o tradicional copo com água gelada. Fiz sinal, inutilmente. Atendiam a todas as outras mesas. Esperei dez, quinze minutos. Em vão. Esperei meia hora. Disso me lembro bem. A dor não se reconheceu ferida, por isso deve ter sido tão rápida a cicatrização. Levantei e saí do restaurante sem ter degustado as famosas ribs do Texas. Quantos olhos me seguiram até a porta? Não sei. Estava de costas.
SANTIAGO, Silviano. Borrão. In: Histórias Mal Contadas. Rio de Janeiro: Rocco, 2005, p. 37-47.
A partir da análise da fonte acima, é CORRETO fazer a seguinte afirmação em relação à segregação racial e aos direitos civis nos EUA.
A Ku Klux Klan teve atuação restrita no Sul dos EUA. A forte repressão à segregação racial fez com que se encerrassem as atividades dessa organização assim que foi promulgada a Lei dos Direitos Civis em 1964.
O confronto ocorrido em Charlottesville, em agosto de 2017, evidenciou as tensões presentes na sociedade norte-americana em relação à intolerância e persistência de confrontos envolvendo supremacistas brancos pelo país.
A luta pelos direitos civis nos EUA foi marcada por mortes, prisões e conflitos nas ruas. Tudo isso, na tentativa de abolir a escravidão e garantir direitos civis aos negros.
Os Panteras Negras lutavam pela garantia de direitos civis aos negros. Eles visavam principalmente à defesa contra a violência policial, faziam isso de forma pacífica, o que garantiu que não fossem perseguidos pelo governo norteamericano.
Atualmente, não existem escolas, espaços públicos e bairros segregacionistas nos EUA. Todavia, restam algumas ações que contestam certas etnias, religiões e opções sexuais a partir de pressões por mudanças legais; sem conflitos e agressões.