Leia com atenção:
Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espalhados.
Ah que medo de começar e ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples demais. O que me proponho contar parece fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama. Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 25.
No trecho do romance A hora da Estrela, de Clarice Lispector, apresenta-se uma concepção do fazer literário, segundo a qual a literatura é:
uma forma de resolver os problemas sociais abordados pelo escritor ao escrever suas histórias.
um dom do escritor, que, de forma espontânea e fácil, alcança o indizível e o mistério graças a sua genialidade.
uma forma de, pelo trabalho do escritor, tornar sensível o que não está claramente disponível na realidade.
o resultado do trabalho árduo do escritor, que transforma histórias complexas em textos simples e interessantes.
um modo mágico de expressão, por meio do qual se de abandona a realidade histórica em favor da pura beleza estética graças à sensibilidade do escritor.