A questão pede para identificar a afirmação verdadeira sobre a crítica de Friedrich Nietzsche à moral ocidental, com base no trecho fornecido de "Para a genealogia da moral". Vamos analisar o trecho e as opções:
Análise do Trecho:
Nietzsche descreve uma "vitória" do "povo", dos "escravos", da "plebe" ou do "rebanho". Ele afirma que "'Os senhores' foram abolidos; a moral do homem comum venceu". Esse processo é caracterizado como algo que "judaíza, cristianiza, plebeíza visivelmente". Essa linguagem é central para a crítica nietzschiana:
- "Escravos", "plebe", "rebanho", "homem comum": Termos que Nietzsche usa para descrever aqueles que, por fraqueza e ressentimento, criaram uma moral que nega os valores dos "senhores" (os fortes, nobres, autoafirmativos).
- "Moral do homem comum venceu": Refere-se ao triunfo da "moral de rebanho" ou "moral de escravo".
- "Judaíza, cristianiza, plebeíza": Aponta para as origens e a natureza dessa moral, que Nietzsche via como invertendo os valores aristocráticos e nobres, promovendo humildade, compaixão e igualdade em detrimento da força, hierarquia e autoafirmação.
Avaliação das Alternativas:
Alternativa A: "Segundo Nietzsche, a verdade e a moral propostas pelos gregos e pelo cristianismo são instrumentos que os fracos inventaram para submeter e controlar os fortes e instaurar uma moral do rebanho."
Esta afirmação está correta. Nietzsche argumenta que a moral judaico-cristã, e também a filosofia socrático-platônica (que influenciou o cristianismo e valorizou a razão de uma forma que Nietzsche criticava por reprimir os instintos vitais), representam uma "revolta dos escravos na moral". Os "fracos" (escravos, plebe), por meio do ressentimento, criaram um sistema de valores (humildade, piedade, obediência) que condenava as qualidades dos "fortes" (orgulho, poder, individualidade) e, assim, conseguiram dominá-los espiritualmente, estabelecendo uma "moral do rebanho" que nivela a todos.
Alternativa B: "Em Nietzsche, encontra-se uma defesa ferrenha dos princípios morais elaborados pela filosofia grega clássica platônica e aristotélica que tem a razão como elemento condutor da ação moral."
Esta afirmação é incorreta. Nietzsche era um crítico contumaz da filosofia socrático-platônica, vendo-a como um sintoma de decadência da cultura grega. Ele criticava a primazia da razão sobre os instintos e a vida, que considerava característica dessa tradição filosófica. Embora admirasse aspectos da Grécia arcaica (pré-socrática), ele não defendia a moral racionalista de Platão e Aristóteles.
Alternativa C: "Para Nietzsche, a moralidade instaurada pelo cristianismo foi fundamental na instituição de uma cultura forte, moralmente ancorada na figura poderosa e altiva de Cristo, modelo para o líder."
Esta afirmação é incorreta. Nietzsche via o cristianismo como a principal força por trás da "moral de escravo", que enfraqueceu o ser humano ao promover valores como a humildade, a compaixão pelos fracos e a negação dos impulsos vitais. Para ele, o cristianismo representava o oposto de uma cultura forte e altiva. A figura de Cristo, para Nietzsche, seria interpretada dentro dessa lógica da inversão de valores, não como um modelo de poder no sentido nietzschiano.
Alternativa D: "Na perspectiva Nietzschiana, a moral dos senhores e da aristocracia que sempre prevaleceu entre os povos da antiguidade, reforçada pela religião cristã, enfraqueceu o homem tornando-o submisso."
Esta afirmação é incorreta e contraditória. Nietzsche argumenta que a religião cristã (uma moral de escravos) subverteu e aboliu a moral dos senhores, não a reforçou. Foi a moral cristã, e não a moral dos senhores, que, segundo Nietzsche, enfraqueceu o homem e o tornou submisso, ao impor valores de rebanho. O trecho da questão diz: "'Os senhores' foram abolidos; a moral do homem comum venceu", indicando o antagonismo entre essas morais.
Conclusão:
A alternativa A é a única que reflete com precisão a crítica de Nietzsche à moral ocidental, conforme expresso no trecho e em sua obra. Ele via a moralidade dominante (influenciada pelo platonismo e, principalmente, pelo judaísmo-cristianismo) como uma criação dos "fracos" para neutralizar e dominar os "fortes", resultando na "moral do rebanho".
Portanto, a afirmação verdadeira é a da alternativa A.