Leia atentamente os textos abaixo.
Texto 01
No dia em que D. João desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, recebeu “um belo presente” de um traficante de escravos local: a melhor casa da cidade, situada num belo e vistoso terreno. “Ceder” a Quinta da Boa Vista à família real assegurou a Elias Antônio Lopes o status de “amigo do rei”.
(Schwarcz, Lilia Moritz – Sobre o autoritarismo brasileiro – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2019 - p.95)
Texto 02
Todos os informantes de um inquérito realizado – cerca de uma centena de pessoas – indicavam que eram inúmeras as situações em que se podia usar o “sabe com quem está falando?” (...) como ocasiões globais em que se procura “sentir-se importante” ou “mostrar a posição social”.
(DaMatta, Roberto – Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro – 6ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997 - p. 187)
Percebemos, nestes dois excertos, traços da caracterização de nossa sociedade, pois:
Éramos, durante o período joanino, uma sociedade caracterizada por relações patrimonialistas e favorecimentos em troca de poder e prestígio, o que não se percebe hoje, já que vivemos sob indiscutível regime democrático e uma Carta Constitucional que rege, de fato, o nosso cotidiano.
Tanto durante o período joanino, como no atual, percebemos uma sociedade hierarquizada, com privilégios e garantias para aqueles que gravitam em torno do poder, apesar da existência, em determinados períodos, de um verniz democrático que aponta para uma suposta igualdade.
DaMatta atenta para um exemplo de sociedade amplamente regida por clientelismos e favorecimentos de poucos, nos transformando em uma oligarquia de fato. Essa percepção, porém, não é notada no texto da Lilia Schwarcz, que retrata o período joanino.
Os atuais regimes democráticos no ocidente foram o resultado de ampla discussão política ao longo da História. No Brasil, por exemplo, nossa democracia atual se reflete plenamente no cotidiano de nossa sociedade, o que nos distancia do modus operandi da antiga sociedade joanina.