Leia atentamente o trecho a seguir, extraído da obra “Boca do Inferno”, de Ana Miranda.
Da janela, Gregório de Matos acompanhou com os olhos a passagem do governador entre pessoas de diversos mundos e reinos distintos. Reinóis, que chamavam de maganos, fugidos de seus pais ou degredados de seus reinos por terem cometido crimes, pobres que não tinham o que comer em sua terra, ambiciosos, aventureiros, ingênuos, desonestos, desesperançados, saltavam sem cessar no cais da colônia. Alguns chegavam em extrema miséria (...) e pouco tempo depois retornavam ricos, com casas alugadas, dinheiro e navios. Mesmo os que não tinham eira nem beira, nem engenho, nem amiga, vestiam seda, punham polvilhos (...) Eram esses os cristãos que vinham, na maior parte, e esses os que caminhavam por ali, tirando o chapéu e curvando-se à passagem do governador. De noite, aqueles mesmos freqüentadores de missas andavam em direção aos calundus e feitiços (...)
Baseando-se no fragmento citado e no seu conhecimento sobre aspectos significativos dessa obra, SÓ NÃO É pertinente o comentário de que
a cena descrita é filtrada pelo olhar de Gregório de Matos, que assume em todo o romance a função de narrador onisciente.
o fragmento aponta para aspectos da dualidade própria do ‘espírito barroco’, quando se refere ao comportamento dos cristãos.
o texto denuncia aspectos da exploração da colônia, ao focalizar fatos e comportamentos que fogem aos princípios da moralidade e dos bons costumes.
o fragmento apresenta toques de ironia, ao mostrar atitudes e procedimentos em que se contrastam essências e aparências.