Leia atentamente o texto e sua tradução, a seguir, e responda à questão.
TEXTO
Quant'á, senhor, que m'eu de vós parti
Por D. Dinis
Quant'á, senhor, que m'eu de vós parti
atan muyt'á que nunca vi prazer
nen pesar, e quero-vos eu dizer
como prazer nem pesar non er vi:
perdi o sen e non poss'estremar
o ben do mal, nen prazer do pesar.
E, des que m'eu, senhor, per bõa fé,
de vós parti, creed'agora ben
que non vi prazer, nen pesar de ren,
e aquesto direy-vos por que é:
perdi o se e non poss'estremar
o ben do mal, nen prazer do pesar.
Ca, mya senhor, ben des aquela vez
que m'eu de vós parti, no coraçon
nunca ar ouv'eu pesar des enton,
nen prazer, e direy-vos que my-o fez:
perdi o sen e non poss'estremar
o ben do mal, nen prazer do pesar.
Senhora, desde o dia em que parti
não tive um só momento de prazer
ou de pesar e quero-vos dizer
por que em tal estado então me vi:
louco de amor, não sei diferençar
o bem do mal, o prazer do pesar.
E desde que parti, minha senhora,
por minha fé, deixai-me repetir:
nem prazer, nem pesar pude sentir,
e vos direi qual o motivo agora:
louco de amor, não sei diferençar
o bem do mal, o prazer do pesar.
Porque, senhora minha, desde então,
desde o momento triste da partida,
eu não sinto, em minh’alma dolorida,
nem pesar, nem prazer, eis a razão:
louco de amor, não sei diferençar
o bem do mal, o prazer do pesar.
INFANTE, Ulisses. Textos: leituras e escritas: literatura, língua e redação. São Paulo: Scipione, 2000. v. 1. p. 145.
Analise as seguintes proposições.
I. Temos, nesse texto, um exemplo que se assemelha às cantigas de amor medievais, em que o sujeito lírico, sempre na voz de um homem, dedicava-se a louvar as virtudes de sua dama, transmitindo-nos uma visão idealizada das qualidades físicas e morais da mulher amada.
II. O eu lírico explica à mulher amada que está tão enlouquecido de amor que não distingue mais o “bem do mal”, o “prazer do pesar”.
III. As palavras de sentido oposto: bem/mal, prazer/pesar, constituem paradoxos utilizados pelo autor para expressar o drama passional do eu lírico, tornando-o ainda mais intenso e sofrido.
IV. A cantiga em questão é uma legítima representante do Trovadorismo Português, que se destacou por suas produções poéticas feitas para serem cantadas, elaboradas em galego-português ou galaicoportuguês, língua que corresponde a uma fase arcaica do português.
É CORRETO o que se afirma em:
Todas as proposições.
I, II e IV apenas.
I, II e III apenas.
I e IV apenas.
I e III apenas.