IFSudMinas 2013/2

Leia, atentamente, o texto e responda, a seguir, à questão.

 

TEXTO

 

O Gigolô das palavras

 

  Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa
mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da
Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu
gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando
[5] opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas
afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos
desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem
entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
[10]   Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser
julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os
vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios.
Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é
certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir,
[15] mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A
Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a
necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que
a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação
pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para
[20] poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo,
mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem
futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
  Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores.E adverti que minha implicância com
a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português.
[25] Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida
escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas
custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu
conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me
[30] deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas
origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo
em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do
povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
  Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão
[35] ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a
deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com
que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da
impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma
conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. “O gigolô das palavras”. In: Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

Observe as três estruturas linguísticas abaixo (I, II e III), extraídas do texto “O Gigolô das palavras”, e assinale a única opção CORRETA, a respeito do emprego da crase:

 

I. “Já estava até preparando, às pressas, minha defesa.”

II. “Vivo às suas custas.”

III. “...minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela.”

a

O emprego da crase é facultativo nas estruturas I e III. 

b

O emprego da crase é facultativo nas estruturas II e III.

c

Na frase III, antes do possessivo feminino “minha”, usa-se, obrigatoriamente, o acento indicativo da crase. d

d

Na frase II, é facultativo o emprego do acento indicativo de crase na locução prepositiva feminina “às custas de”.

e

Na frase I, é facultativo o emprego do acento indicativo de crase na locução adverbial feminina “às pressas”.

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B
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