Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão.
Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixará de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara - todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. 17ª ed. São Paulo: Ática, [s.d.].)
O trecho retirado do romance “Triste Fim de Policarpo Quaresma” evidencia uma tomada de consciência em relação à representação de pátria que até ali o personagem nutrira.
No discurso narrativo, o processo de conscientização foi revelado, fundamentalmente, por meio de
diálogo com interlocutor.
perguntas retóricas.
afirmações universais.
construções paradoxais.
Neste trecho de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, o protagonista faz uma profunda reflexão sobre o resultado de sua incessante dedicação à pátria, questionando o valor disso, considerando que foi uma busca praticamente infrutífera para sua própria felicidade. O momento de autoconsciência é marcado por perguntas que Policarpo se faz, evidenciando seu estado de frustração quanto à vida que ele levou. Essas indagações apontam, de maneira inconfundível, para o emprego de perguntas retóricas, que, mais do que buscar respostas objetivas, reforçam a dramaticidade e a tomada de consciência do personagem. Portanto, a alternativa correta é aquela que indica o uso de perguntas retóricas como mecanismo fundamental do discurso reflexivo e narrativo, que é a letra B.
Perguntas retóricas são recursos de linguagem em que se formula uma questão sem a intenção real de obter resposta. O objetivo é provocar reflexão e enfatizar uma ideia ou sentimento. No trecho, as indagações do protagonista não estão dirigidas a um interlocutor específico, mas a si próprio, acentuando o seu sentimento de frustração e decepção.
Narrativa literária é uma forma de texto em prosa em que se contam acontecimentos numa sequência temporal, dando voz a personagens e a suas reflexões. Em certas obras, especialmente em romances de cunho realista ou naturalista, o fluxo de pensamentos e o processo de consciência de um personagem podem ser evidenciados pelas perguntas que ele se faz.