Leia, atentamente, o poema abaixo de Luiz de Camões para responder à questão:
TEXTO
Alma minha gentil, que te partiste
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou
SARAIVA, Maria de Lourdes. “Alma minha gentil, que partiste”. In: Luís de Camões - Lírica Completa. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1981.
Assinale a única alternativa INCORRETA, a respeito do texto:
Percebe-se o contraste do neoplatonismo neste poema de Camões, pela forma que o eu lírico colocase inferior à amada, que é contemplada e vista “lá no assento etéreo", lugar superior. Permanecendo na terra, lugar considerado inferior, o eu lírico demonstra viver uma vida triste, sem a possibilidade de concretizar o seu amor, ao expressar-se assim: “vida descontente e viva eu cá na terra sempre triste, alguma dor que me ficou, mágoa sem remédio perder-te”.
Nesse texto, nota-se a presença de antíteses, como “lá” e “cá”, “Céu” e “terra”, “repousa (...) eternamente” e “viva (...) sempre triste”, sendo que os primeiros termos referem-se à amada, e, os segundos, ao eu lírico.
O eu lírico transcendentaliza o amor ao buscar sua amada no Céu, em Deus, o que denota a valorização dos aspectos religiosos e cristãos – teocentrismo – neste poema de Camões, embora sua escola literária – Classicismo - primasse pelos valores filosóficos – antropocentrismo.
Ao sugerir a possibilidade de que a amada se lembre dele, “lá do assento etéreo”, o eu lírico desespera-se, à maneira romântica, uma vez mergulha-se em seus sofrimentos existenciais, rompendo com a disciplina clássica a que tanto almeja.
Os momentos conflituosos do poeta aproximam-se do Barroco, quando retratados pela presença da morte e expressos por meio do dualismo que opõe morte e vida, sofrimento e serenidade, presente e passado, o que faz com que Camões seja considerado um precursor do Barroco.