Leia atentamente o poema a seguir:
Visita ao túmulo de Machado de Assis
Afonso Félix de Sousa
Aqui venho e virei. À beira
de teu túmulo uma fiandeira
como que me entrega, tecida,
tenuíssima teia - e da vida
mais clara aceitação eu posso
ter, pois do que é teu, meu, e nosso,
por ser um comum atributo,
extraio o que há de seiva e fruto,
e dou, como alimento, à alma,
que come, espanta-se, e se acalma.
Não te trago flores, ó mestre,
nem hinos minha voz campestre
é capaz de erguer a teu nome.
No entanto, mataste-me a fome
da alma, ao me deslindar a estranha
teia de almas que me acompanha.
No entanto, sem sequer pintá-la,
tua voz é que melhor fala
desta cidade onde, por obra
e graça da sorte, soçobra,
e vai existindo, e repousará o Afonso Felix de Sousa.
(SOUSA, Fernando Felix de. Nova antologia poética. Goiânia: Cegraf./UFG, 1991. p. 97.)
Nesse poema, o poeta do século XX faz menção ao mestre Machado de Assis, escritor do século XIX, dando ênfase
à voz que deixou um legado de influência nos seus sucessores,
à trama de narrativas complexas e indecifráveis de Machado.
ao sentimentalismo pela morte do ídolo da época do Realismo.
ao desejo de habitar o mesmo túmulo de Machado de Assis.